Jandrei; Rafinha, Arboleda, Miranda, Wellington; Luan, Alisson, Patrick; Nikão, Rigoni e Luciano; em um 4-3-3 funcionando com um Luciano como um “falso 9”, valendo dizer que Rigoni, nessa escalação, atuaria como ponta esquerda em razão da diretoria ter sido incapaz de trazer um ponta veloz e driblador para compor o elenco.
Para muitos, no começo da temporada, esse era o projeto de time e de modelo tático que seria adotado por Rogério Ceni para criar um São Paulo intenso, vertical, menos dado à posse de bola e mais agressivo contra os adversários.
Para muitos outros, o campo falou durante a temporada e o sistema com 3 zagueiros se impôs naturalmente em razão de ser um elenco que, embora não tenha sido formado para isso, acaba tendo características que favorecem naturalmente esse sistema e, agora, o campo estaria falando novamente e estaria tornando-se óbvio que o sistema precisa ser o 3-4-3 para que seja possível que Luciano, Calleri e Patrick joguem juntos o máximo de vezes possível.
Particularmente, eu discordo das 2 assertivas. Tenho que confessar que, de fato, eu não sou um grande apreciador do sistema de 3 zagueiros por achar que ele é mais fácil de desequilibrar e mais difícil de corrigir que os sistemas que usam uma base de linha de 4 zagueiros. Efetivamente, um primeiro volante com boa leitura de jogo e bom poder de marcação transforma, durante o jogo, qualquer linha de 4 em uma linha de 5 ou 3 para compensar uma estratégia adversária, porém, é necessário um Zagueiro que raramente se encontra nos campos para fazer com que uma linha de 3 consiga alternar para uma linha de 4 durante o jogo.
Isso não me impede de reconhecer que algumas características do elenco do São Paulo fazem com que o modelo tático baseado em 3 zagueiros encaixa bem com esse grupo de jogadores, apesar de fazer a exigência de que certos jogadores estejam em campo para que seja funcional. O que, por sua vez, não me impede de achar que esse não é esquema ideal para usar o que temos de melhor em nosso elenco.
Deixando o que eu penso ser o ideal mais para frente e voltando as assertivas que circulam nas redes sociais como obviedades na boca de muitos torcedores e alguns jornalistas e analistas, não posso negar que o sistema de 3-5-2, ou mesmo o 3-4-3 com todos nossos principais jogadores, funciona melhor com esse elenco do que o modelo tático descrito pela escalação que inaugura esse texto, sendo que o 3-5-2 tende a funcionar melhor que o 3-4-3, e que me parece óbvio que as assertivas sobre a linha de 3 e os 3 atacantes me parecem se excluir, excetuando-se um jogo ou outro, fazendo com que as duas escolhas, na verdade, sejam excludentes na maior parte dos jogos da temporada.
A primeira assertiva, no entanto, descreve um modelo de time que, sinceramente, nunca me passou pela cabeça durante a chegada dos reforços na janela de janeiro e, muito pela evidência teórica que não seria funcional atacando e, principalmente, defendendo. Inclusive, ao me deparar com essa escalação indicada como projeto inicial do São Paulo, eu até me assustei um pouco, embora, revisitando as escalações dos primeiros jogos do ano, talvez seja possível que, de fato, esse tenha sido em um breve momento o projeto de time.
Contusões e a demora para alguns atletas entrarem em forma atrapalhou que esse time fosse testado e, devo dizer que, nesse caso, minha impressão que esses males vieram para o bem do São Paulo na temporada, uma vez que me parece evidente que esse time não funcionaria.
Imagina-se que o 4-3-3 escalado daquela forma, sem centroavante fixo de acordo com as preferências de Rogério Ceni em outros trabalhos, poderia ser um time com velocidade, força física, mobilidade em todos os setores e com uma zaga firme e experiente, capaz de aliar a qualidade do passe, principal característica do elenco do São Paulo, com o jogo vertical que o técnico Rogério Ceni tanto gosta, porém, novamente na minha opinião, imagino que essa percepção deva-se a um erro na analise das características dos jogadores.
Rafinha ou Reinaldo têm qualidade de passe para sair jogando, porém, Rafinha não possui mais velocidade e vigor físico para oferecer profundidade pelo lado, enquanto Reinaldo não consegue oferecer isso o jogo inteiro, motivo pelo qual, como Ceni já disse algumas vezes, ambos não podem jogar (e raramente o fizeram) juntos. Arboleda, Miranda e Luan, por sua vez, não possuem qualidade de passe para municiar o meio de campo com uma bola suficientemente limpa para ajudar o início do processo de construção do jogo.
Igor Vinicius e Wellington, por suas vezes, não possuem o passe tão qualificado para serem o sustentáculo da saída de bola da defesa pelo chão e, sem Calleri, sair pelo chão seria nossa única forma de sair. Além disso, considerando que a saída de jogo seria por uma lateral, o lateral oposto, necessariamente, teria que avançar para o meio de campo para, com profundidade e superioridade numérica no meio, o time tivesse opções para sair jogando.
Dessa forma, o primeiro problema desse time, como já visto nas primeiras partidas do ano, mesmo sem Luan e, por vezes, com Nestor jogando de primeiro volante para ajudar na saída de bola, ficaria preso em seu próprio campo rodando a bola entre zagueiros.
Vale dizer, sequer seria difícil cortar a saída de bola do São Paulo, uma vez que bastaria fechar o corredor do lateral mais físico e impedissem as linhas de passes opções de passe do lateral construtor no lado oposto.
“Mas, os meias poderiam descer para ajudar na saída, não? ”. Sim, o que geraria outros problemas. Primeiro, Patrick e Alisson são jogadores que tem o ponto forte em carregar a bola e não, exatamente, no passe, e, imagina tentar carregar a bola do seu próprio campo até a intermediária adversária durante o jogo inteiro? Perdas de bola em excesso permitindo o time adversário construir contra-ataque partindo da nossa intermediária? Sim. Além disso, com os meias descendo toda a hora, o time se fragmentaria e o ataque tenderia a ficar absolutamente isolado.
Vale dizer que Rigoni, o ponta-esquerda, e Nikão, o ponta-direita, tem a tendência de afunilar o jogo. Isso seria importante, uma vez que, nesse esquema, eles seriam os responsáveis pela criação ofensiva do time, abrindo o espaço para o avanço do lateral mais físico. O Avanço de um lateral dessa forma, obrigaria, ao menos, um dos meias a entrar na área junto do ponta oposto para termos esperança em alguma jogada área.
O Lateral oposto, dessa forma, teria que dar amplitude ao time para uma inversão de jogo, sendo ele utilizado ou não na jogada de ataque, obrigando o volante a cobrir o avanço e não participar do momento ofensivo mais do que ser o recuo de segurança. Um dos meias, dependendo do lado do ataque, teria que entrar na área e ou outro teria que dar opção de profundidade pelo lado do ataque, algo que Alisson e Patrick fazem bem por característica.
Caso Luciano ficasse na área como um 9, o que, para mim tira o melhor do futebol dele, o São Paulo até poderia agredir a área com um número interessante de jogadores, porém, essa engrenagem toda faria com que o São Paulo tivesse um meio de campo extremamente desabitado, o que, para mim, significaria que, mesmo com Luan, o time seria exposto e seria obrigado a jogar com a linha alta, exatamente o jeito em que Miranda é mais vulnerável.
Ora, ainda que Patrick e Alisson, um bom jogador e outro jogador útil, tenham característica de recompor bem pelas laterais do campo, isso não faz com que seja possível imaginar que eles consigam a executar a função de um volante/meia box-to-box. Parece similar, mas, não é exatamente a mesma função.
Por fim, Luciano ficaria parado na área esperando as chances de finalizar como um nove oferecendo profundidade ao time, movendo-se lateralmente para ajudar o lado em que o ataque estava sendo formado e saindo cirurgicamente da área quando os pontas, ou um meia, pudessem infiltrar para preencher o espaço deixado? Duvido. Luciano gosta de jogar flutuando e participando da construção.
É evidente que essa é uma leitura teórica, afinal, como já foi falado nesse texto anteriormente, esse time não chegou a jogar junto para que pudéssemos ver se ele poderia, contrariando essas constatações, adaptar-se e se tornar funcional em campo.
Isso dito, conforme tudo que foi explicado nesse texto, não me parece que fosse uma ideia de jogo destinada ao sucesso e, com algumas adaptações após as primeiras três partidas do ano, as quais foram horríveis, Rogério Ceni começou, também por motivos alheios à teoria, a modificar algumas ideias de jogo para preencher melhor o meio de campo e propiciar mais aproximação para que o time fosse capaz de criar e preencher melhor os espaços.
Temos bons zagueiros. Três dos nossos quatro laterais não sabem defender e são acima da média no apoio e, Patrick, Luciano e Calleri são decisivos demais, ainda mais em um elenco sem grande poder de decisão, para não poderem jogar juntos. Tudo isso é verdade, então, o 3-4-3 e uma escolha óbvia, certo?
Não. Não é.
Victor Gabriel Augusto
Twitter: @victor_gaugusto