São Paulo 3×0 Red Bull Bragantino, ocorrido no Morumbi, no dia 14.08.2022, com o time escalados com: Felipe Alves, Diego Costa, Miranda, Léo; Igor Vinicius, Gabriel Neves, Rodrigo Nestor, Reinaldo; Patrick, Luciano e Calleri; para muitos torcedores, indicaram que o São Paulo poderia funcionar com seus três melhores jogadores sem abrir mão da linha de 3 e, para delírio de muitos, sem necessitar da presença de Igor Gomes, sendo óbvio que o 3-4-3 desenhado por Rogério naquela tarde seria o melhor modelo tático.
O time funcionou aquele dia muito mais pelas características do Time adversário e pela inatividade do treinador adversário do que, propriamente, pelos méritos do modelo tático adotado para aquele jogo, embora, seja inegável o mérito do próprio Rogério em enxergar que esse modelo tático poderia anular um dos principais méritos do time do Red Bull Bragantino: a mobilidade.
Aproveitando da costumeira linha alta do time adversário e da presença de apenas um volante marcador e da fragilidade defensiva do lateral direito adversário, o posicionamento do Patrick, iniciando como meia e caindo pela esquerda para atuar as costas do lateral deslocou o único marcador do leve meio-de-campo adversário e criou espaço para Nestor jogar onde bem entendia, com os avanços de Reinado e a pouco obrigação ofensiva de Artur, marcado de perto por Léo, criando igualdade ou superioridade numérica do São Paulo pelo lado esquerdo.
Nesse cenário, Neves, um volante com muita mobilidade, e Nestor, tinha obrigação de marcar dois jogadores responsáveis pela articulação, Hyoran e Lucas Evangelista, deixando Luciano na marcação de Luan Cândido e Calleri ocupar os dois zagueiros. Diego Costa, apoiado por Igor Vinicius, era o responsável por Sorriso e Miranda por Hurtado, com Felipe Alves sendo o zagueiro da sobra.
Contamos com excelentes dias dos nossos dois alas e, um dia muito pouco inspirado de algumas peças do Red Bull Bragantino, o que não muda o fato de que a ousadia de Rogério, organizando uma marcação quase sem sombra na defesa e no meio conseguiu anular as principais armas do Bragantino que têm o inconveniente costume de nos machucar bastante nos últimos anos.
Funcionaria em todos os jogos? Duvido.
Inicialmente, um time com maior responsabilidade defensiva dos pontas, com jogadores de uma rotação maior e nível técnico um pouco maior que o Red Bull Bragantino poderiam facilmente sair da armadilha projetada para esse jogo, fazendo com que o meio-de-campo, formado por dois jogadores essencialmente leves, que conseguiram dar combate ao meio-campo leve do Red Bull, ficassem sobrecarregados no meio, evitando a superioridade numérica na esquerda.
Pontas velozes e com bom um contra 1 nas costas dos alas e no mano a mano com nossos zagueiros e o zagueiro da sobra ocupado com o centroavante adversário não é uma memória boa para São Paulinos nesses últimos anos.
Um risco calculado nesse jogo, afinal, o time do Red Bull Bragantino, na maioria das posições, não é melhor que o time do São Paulo individualmente, porém, contra outros times e outras características individuais e de modelo tático, esse time poderia, facilmente, tornar-se presa fácil para um adversário bem organizado.
Ademais, conforme já falamos ao explorar o 3-5-2, o 3-4-3 tem características similares, mas, com o miolo do meio-campo formado por apenas dois jogadores, é praticamente essencial que ambos os jogadores tenham características fortes de preenchimento de espaço, box-to-box e que sejam capazes de destruir e criar para o time não ficar manco.
Luan, Pablo Maia e Colorado, pelo que vimos até agora, estariam descartados nesse sistema de jogo. Gabriel Neves, mais um distribuidor de jogo que propriamente um box-to-box, teria dificuldades para jogar.
No ataque, nem sempre a força do Patrick seria suficiente contra um Lateral mais pesado e, considerando que Wellington ainda é um trem avançando no corredor pela esquerda e que raramente consegue fazer a diagonal, também teria dificuldades em não bater cabeça constantemente com o Ponta Esquerda.
Além da nossa falta de velocidade e de 1 contra 1, que eventualmente, seria sentida nesse sistema que se baseia nisso no terço final, chegaríamos a conclusão que, nesse modelo tático, não faz sentido nenhum ter trazido André Anderson (e, tudo bem, porque já não faz), e, veríamos Luciano perdendo espaço no ataque para Nikão e Marcos Guilherme.
Luciano, aliás, e não se enganem, uma vez que não vou brigar com as evidências aqui e negar que, tecnicamente é um dos melhores jogadores do São Paulo atualmente e que, talvez, possua o maior poder de decisão em todo o elenco, não foi bem contra o Bragantino e, provavelmente, não iria bem em nenhuma partida usando esse modelo tático.
Eventualmente, e, aqui estamos falando de uma questão de tempo, a impossibilidade de Luciano dar profundidade pela direita, além da necessidade extrema de proximidade para jogar, também pela ausência de grande explosão, sem nem comentar a dificuldade de recomposição quando enfrentando um lateral que agredisse Igor Vinicius, fosse determinante para que ele perdesse a vaga para jogadores mais aptos a fazer esse trabalho, o que, com certa razão, deixaria a torcida irada.
Além disso, essa formação não afastaria nenhum dos problemas visualizados ao discutir o modelo tático do 3-5-2, com a questão que, provavelmente, ele agravaria alguns problemas do elenco, como a ausência de um atacante com boa capacidade no 1×1, a ausência de vários meias/volantes capazes de fazer o box-to-box e falta de zagueiros com as características certas.
Muitos torcedores enxergaram o 3-4-3, mais exatamente, um 3-4-2-1 utilizado por Ceni contra o Red Bull Bragantino como um modelo que possibilitasse que 3 dos principais jogadores com grande poder de decisão do elenco pudessem jogar juntos, mas, no meu entendimento, essa foi impressão pontual contra um time com características que favoreciam nosso jogo nesse sistema e, ainda, assim, contando com uma boa dose de felicidade dos nossos jogadores que venceram a maioria das disputas individuais naquele dia, uma vez que a marcação, conforme detalhado, era quase uma marcação individual.
Em suma, o 3-4-3 pode ser uma opção contra alguns times que possuam um meio de campo muito leve e pouco combativo, o que, se resume ao Red Bull Bragantino atualmente no Brasil, mas, dificilmente encaixaria contra outros times, sendo ainda mais vulnerável que o 3-5-2 e mantendo todos os problemas de formação de elenco que, na minha visão, impedem que o 3-5-2 seja um modelo tático amplamente funcional em longo prazo.
Por fim, o modelo foi visto como uma opção para termos nossos 3 principais jogadores com poder de decisão em campo ao mesmo tempo, porém, reitero, é uma ilusão que sequer aquele jogo foi capaz de alimentar, uma vez que, ficou evidente que Luciano, jogando em uma posição que não lhe favorece, não jogou nada bem.
Victor Gabriel Augusto
Twitter: @victor_gaugusto