PARA VOLTAR A SER SÃO PAULO; POR GABRIEL FUHRMANN

Acervo SPFC

 

No final de 2013, após o até então pior ano da história do SPFC, o Tricolor On The Rock fez uma série de entrevistas com os são-paulinos mais influentes segundo nossa e equipe. Essa série se chamou: “Meu Tricolor em 2014″.

Pois bem, estamos aqui mais uma vez, após um ano em que mais uma vez o clube esteve perto de cair para a série B e a única coisa que o torcedor tricolor pode “comemorar” é o famoso: Time Grande Não Cai. Mais uma vez vamos fazer uma série de entrevistas, mais uma vez vamos convocar os tricolores para debater nosso SPFC em busca de sugestões de quem ama o clube. E alguém ama mais que o torcedor? Não.

O entrevistado de hoje é: Gabriel Fuhrmann, vamos às perguntas:

TOTR: Quem foi o grande responsável pelo péssimo ano do Tricolor e por quê?

Gabriel: Com certeza a diretoria, não só a atual diretoria, como praticamente todas que antecederam. O São Paulo, como grande parte dos clubes do Brasil, não tem planejamento e não tem profissionalismo, isso resulta em um trabalho feito com base no gosto pessoal, no palpite, no achismo, no coleguismo. O São Paulo não tem definida sua filosofia, seja de jogo, seja política, seja estrutural e assim tudo é desorganizado e nada de bom se cria na desorganização. No futebol isso é muito claro, sem filosofia de jogo, não se sabe quais treinadores e quais jogadores contratar, como analisar o desempenho dos atletas e do técnico e como dar estrutura para que eles possam render mais, é tudo feito na base do achismo, do gosto pessoal, sem qualquer estudo. Por isso, o São Paulo acaba mudando tudo a cada cinco ou seis meses, sem saber que direção tomar e muitas vezes tomando uma direção completamente oposta a que ele vinha seguindo.

TOTR: Qual o principal motivo para o SPFC estar nessa situação? Elenco caro, bons treinadores, mas que; desde 2013 com exceção ao bom trabalho de 2014, vem colecionando fracassos e flertando com a segunda divisão?

 

Gabriel: Precisamos definir o que é um bom trabalho: algo que dá certo por um único ano ou período é considerado bom ou é melhor algo que dá certo por longo prazo? O futebol é multifatorial, mesmo o trabalho não tão bem feito, pode dar certo em uma temporada ou outra, em um campeonato ou outro, mas não vai dar certo na maioria das temporadas e campeonatos. É como em 2016, o São Paulo chegou até a semifinal da Libertadores, mas isso significou um bom trabalho? Ao menos pra mim fica claro que não, quando você percebe que daquilo não surgiu uma base, algo que desse ao time uma solidez no futuro. O que diferencia o bom trabalho é exatamente essa periodização. O bom trabalho é aquele que forma um time de qualidade, identificado e sólido, que pode, vez ou outra, viver um mau momento e não aquele que forma um time instável, que vez ou outra pode viver um bom momento. Há anos o São Paulo vive a segunda opção, bons momentos esporádicos em meio ao caos e precisa ser o contrário, maus momentos vão existir, até nos melhores times do mundo, mas eles é que tem que ser esporádicos.

 

TOTR: Rogério Ceni iniciou o ano com técnico do SPFC, mas não suportou as eliminações no Paulista, Copa do Brasil, Sul-americana e o Z4 no Brasileiro; você acha que era a hora de Ceni? Como analisa o trabalho dele no comando tricolor?

 

Gabriel: Acho que a preparação do Rogério acaba importando menos do que as pessoas acham que importa. Ele se rodeou de pessoas boas e tinha junto consigo a estrutura de um clube grande, não precisa ser linceça A da UEFA pra fazer o trabalho, ainda mais com a experiência que ele teve no futebol e os treinadores com quem aprendeu, mas certamente se ele estivesse mais preparado, como era a ideia do próprio, teria tido mais base para que do seu trabalho surgisse algo mais sólido. Acho que ele mostrou fortes indícios de que tem uma visão moderna do futebol, com um jogo proativo, ofensivo, fiquei realmente animado com as pequenas coisas que ele demonstrou e não acho que o São Paulo cairia com ele no comando, acho que a tendência era o trabalho estabilizar um pouco mais. Como os resultados não aconteceram, fica a ideia de trabalho ruim, mas pelo tempo que ele ficou e como a minha tendência é não ser resultadista, acho injusto a gente dizer até que teve trabalho, pois qualquer tentativa de criar alguma coisa ali não teve tempo suficiente para se consolidar. O que posso dizer, é que desse pequeno início do Rogério, vi sim um trabalho com potencial para ser muito bom no futuro.

 

TOTR: Para alguns torcedores um dos erros da direção é a constante mudança de treinadores, você concorda com essa afirmação? Sobre Dorival, você acha que ele deve ser mantido ou deve sair? Se sair, quem você contrataria?

 

Gabriel: Com certeza e isso faz parte da falta de filosofia do São Paulo. Como no São Paulo tudo é decidido por achismo, por gosto pessoal e palpite, você pode passar de um Osório, muito ofensivo, com jogo posicional, que precisa de um tipo específico de jogador, para o Bauza, um cara muito mais defensivo, de peças mais fixas, que precisa de outro tipo de jogador. Ambos podem dar certo, desde que haja um planejamento para que dê certo e tempo para que o elenco seja montado corretamente. É claro que montar a defesa é mais simples do que montar o ataque, destruir é mais fácil do que construir e você geralmente vai ver mais rapidamente os resultados de um trabalho mais defensivo, mas da forma como o São Paulo faz, até esses resultados são apenas um tiro. Como o São Paulo não tem filosofia alguma, a cada cinco ou seis meses começa um trabalho do zero ou pior, do negativo, já que fica cheio de jogadores que não servem para o novo treinador. No momento, se há qualquer projeção futura de curto prazo, Dorival tem que ficar. Não é o ideal. Ao meu ver, não é o treinador dos sonhos, mas é ao menos o início de um trabalho mais sólido para 2018. Se for trazer outro, a torcida tem que entender que o começo pode ser mais instável, que o trabalho vai começar mais uma vez do zero. Acho que existem técnicos que demonstram muito potencial, como Jair Ventura, do Botafogo, mas claro que meu sonho para o São Paulo é um técnico que se identifique mais com o estilo de jogo que eu mais aprecio, como Osório, Rueda, Jorge Almiron, Fernando Jubero, Sampaoli, etc.

 

TOTR: O elenco tricolor está entre os mais caros do país e conseguiu apenas a 13ª campanha no Brasileiro além de eliminações no Paulista, Copa do Brasil e Sul-americana; levando em conta que times com orçamentos mais baixos conseguiram resultados importantes, qual você acha que deveria ser a política do São Paulo? Salários altos, jogadores baratos, apostar na base?

Gabriel: A política de apostar na base é a que eu defendo desde sempre, até por enxergar em Cotia muitas possibilidades para o São Paulo, mas mesmo ela não funciona quando você não tem filosofia de trabalho. André Jardine conquistou inúmeros títulos com o sub-20 do São Paulo, mas o que isso traz se enquanto ele esteve no sub-20, sete treinadores completamente diferentes passaram no profissional? Não significa nada, se o time principal joga em um estilo de jogo completamente diferente do sub-20 e é impossível montar um sub-20 que se adapte a sete estilos de jogo diferentes em três anos. Não houve tempo de nenhum dos sete treinadores conhecer os jogadores do sub-20 e muito menos houve tempo do André Jardine adaptar seus jogadores para atenderem as necessidades desses times. Falando sobre orçamento, esse ano tivemos mais de uma prova de que dinheiro não ganha títulos, mas planejamento sim. O dinheiro pode funcionar um ano, até mais, mas se você não tiver filosofia de jogo, não vai funcionar sempre. Times que mudaram pouco seus estilos de jogo ou que já tinham ele definido, foram mais assertivos, naturalmente conseguiram melhores resultados. Sabiam quem contratar, porque contratar e o que esperar de cada contratação. Mesmo os maiores clubes do mundo, que podem contratar praticamente quem quiserem, não vão vencer se as contratações não casarem com o planejamento e o estilo de jogo e já vimos isso acontecer também na Europa.

 

TOTR: Qual o setor ou setores que em sua opinião nosso time mais precisa de reforços?

 

Gabriel: Diretoria, análise de desempenho… O problema do São Paulo não está nos jogadores, está na falta de coerência e estudo para contratá-los e para saber o que cobrar, tanto deles, quanto da comissão técnica. Hoje o São Paulo não sabe o que pedir, só sabe que quer vencer, mas não tem a menor ideia de como. É o equivalente a você querer uma pizza, mas não saber que sabor quer. Você liga na pizzaria e fica pedindo pizzas aleatoriamente, sem definir o sabor, você até vai receber alguma que goste, mas nunca aquela que você realmente quer e por sua vez, o pizzaiolo ou fará o básico ou tentará inovar completamente sem direção. Uma delas pode funcionar às vezes, mas, a não ser que você coma absolutamente qualquer coisa, a maioria não vai te agradar, algumas é capaz que você ache que nem pizza são e as básicas, por mais que acertem, uma hora vão te enjoar. É a mesma coisa, o treinador que inovar pode não vai agradar na maioria das vezes e muitas vezes você vai questionar o que ele está fazendo, porque você não sabe o que quer e nem sempre ele vai vencer, enquanto o que fizer o básico pode até vencer uma vez ou outra, mas uma hora vai ficar manjado e não vai dar mais certo. O São Paulo simplesmente não sabe o que cobrar, não sabe se quer um time ofensivo ou defensivo, se quer um time marcando pressão ou deixando jogar, se quer posse de bola ou ser reativo e por isso não sabe o que cobrar, simplesmente cobra vitórias, não cobra mais nada além disso. Essa definição precisa partir de cima para baixo, tendo isso em mente, a diretoria define o treinador, que por sua vez define sua comissão, que define os jogadores e treinamentos específicos.

TOTR: Existe informações de que a atual administração estaria pagando as dívidas do clube com austeridade e vendendo jogadores, você tem alguma informação nesse sentido? Como você vê essa política? Esse é o caminho certo?

 

Gabriel: Não tenho informação sobre as finanças do clube e não acredito em nenhuma informação passada pela diretoria nesse sentido, já que em outras gestões todas se mostraram falsas.

 

TOTR: Por último, quais as suas expectativas em relação ao time para 2018?

Gabriel: Se mantiver a base que tem, trabalhar e apostar em Cotia no que for preciso, pode fazer um bom ano. Mas precisa se atualizar em relação a praticamente tudo se quiser que um bom desempenho em qualquer bom momento de 2018, seja um bom desempenho de longo prazo. Lugano disse muito bem sobre a diferença do São Paulo vitorioso para esse, ele disse que os adversários evoluíram e o São Paulo não, que hoje o São Paulo está atrasado. O São Paulo também precisa evoluir, se quiser voltar a ser um time de vanguarda do futebol nacional.

 

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