A edição 2015 do Monsters of Rock pode causar análises controversas: o line-up de sábado realmente ficou bastante prejudicado com a ausência de última hora do Motorhead e já causaria discussões por ter um cast mais heterogêneo. Contudo, não há uma só pessoa que tenha comparecido à Arena Anhembi no domingo e não tenha saído satisfeita. O que mostra que em se tratando de rock pesado no Brasil, a saída talvez seja mesmo a segmentação – que o diga o Black Veil Brides, vaiados e hostilizados pelo público ansioso para ver Ozzy/Motorhead.
Os problemas reportados no sábado, como longas filas, não se repetiram no domingo que foi bastante tranquilo. É claro que há coisas que poderiam e deveriam ser melhoradas, como o preço abusivo de bebidas e alimentos – cobrar 6 reais um copo d’água naquele sol escaldante chega a ser um CRIME – e principalmente o horário de término dos shows de domingo. Afinal, o público do festival era em sua absoluta maioria ADULTO e teve que se virar para ir embora de madrugada e possivelmente ainda ter que trabalhar na segunda-feira de manhã…
Quantos aos shows do domingo, não há do reclamar e abaixo você confere alguns comentários sobre cada um deles:
DOCTOR PHEABES
Chega a ser um intrigante como o DR. PHEABES – única banda nacional no evento – conseguiu participar pela segunda vez consecutiva de um festival do porte do Monsters of Rock. Sem entrar em méritos de qualidade – a banda executa muito bem aquilo a que se propõe – há bandas de maior destaque e popularidade que mereciam a honra de colocar uma participação no festival em seus currículos.
Bom, deixando essas questões de lado, a banda, agora convertida em um quarteto, evoluiu bastante desde a sua última apresentação, apresentando somente composições autorais e usando muito bem o telão com imagens para ilustrar as músicas. Mas ganhou de vez a galera quando chamou “Susie” uma bela dançarina de pole dancing que acabou roubando completamente a cena durante o encerramento da apresentação do DR. PHEABES.
STEEL PANTHER
Os organizadores, talvez receosos da receptividade do público ‘true’ à banda, escalaram o quarteto Californiano para tocar às 13:00 hs. Um erro, já que relegaram a segundo plano aquela que foi a melhor apresentação de todo festival.
Famosos por seu estilo paródico, a banda justificou a reputação em uma apresentação memorável, com diversos momento hilários e interagindo de maneira absurda com o público.
O guitarrista Satchel gastou seu português falando todo tipo de bobagens com conteúdo sexual em Português enquanto o baixista Lexxi Foxx fez um solo ‘de cabelo’. Não faltaram também os populares e espontâneos ‘top-less’ das fãs na música “17 in a row”.
Mas a festa não seria completa se a música não fosse de qualidade, e nisso também o Steel Panther foi competentíssimo, com ótima atuação do vocalista Michael Starr, mesclando músicas de seus 3 álbuns em um set bastante reduzido por conta da limitação do festival. Destaques para ‘Death to All but Metal’, ‘Community Property’, ‘Pussywhipped’, “Party All Day”, “Party like tomorrow is the end of the world”.
Showzaço de uma das melhores bandas da atualidade e que merecia um horário melhor e mais tempo. Quem sabe na próxima…
YNGWIE MALMSTEEN
Se o STEEL PANTHER incendiou a galera, MALMSTEEN quase colocou para dormir com seu metal sinfônico. Com todo respeito que o Maestro recebe, é preciso mais do que uma bela parede de Marshals para se fazer um show divertido.
Não que a apresentação tenha sido ruim. Certamente os fãs do guitarrista apreciaram sua técnica e suas coreografias mirabolantes – que incluem tudo aquilo que você via naqueles VHS dos anos 80/90, mas esse anacronismo fez o Malmsteen ficar um pouco fora de sintonia com a energia dos outros ‘velhinhos’ do festival.
De qualquer forma, pela nostalgia e por clássicos como ‘Heaven Tonight’, ‘I’ll see the light tonight’ e ‘Far beyond the sun’ podemos dizer que valeu a pena ter resistido e assistido a sua apresentação até o final.
UNISONIC
O UNISONIC levou de novo a energia a níveis mais altos com seu Power Metal e o carisma de seus integrantes, em especial o lendário guitarrista/vocalista KAI HANSEN e o extraordinário MICHAEL KISKE, dupla que fez do HELLOWEEN uma das bandas mais populares do estilo.
A banda tocou músicas de seus dois únicos álbuns, com destaques para “Exceptional”, “For the Kingdom” e “Your time has come” e realmente empolgou.
Mas o que todos queriam mesmo ouvir eram os clássicos do HELLOWEEN e a banda encerrou sua apresentação com a espetacular “March of time” e o megaclássico “I want out”, com uma performance vocal impressionante, nem parecia que se tratavam de músicas originalmente gravadas há quase 30 anos.
Sem dúvidas, uma performance para fazer até o mais true dos headbangers se emocionar.
ACCEPT
Embora nem sempre leve o devido crédito por isso, o ACCEPT é uma das bandas que definiram o heavy metal. E quando parecia que a banda iria perder sua força com a saída do icônico vocalista Udo Dirkschneider, a banda RESSURGIU com a entrada de Mark Tornillo.
É impressionante o vigor da banda ao vivo, um verdadeiro rolo-compressor metálico, seja nas ótimas músicas de sua fase recente, como “Stalingrad’, “Stampede” ou “Final Journey” quanto em clássicos como “Metal heart”, “Fast as a Shark”, “Balls to the Wall” e “Princess of the Dawn”. Sem animação no telão, sem pirotecnia, sem frescura. Apenas e simplesmente a música.
O guitarrista Wolf Hoffmann é uma enciclopédia de riffs e a “pegada” do resto da banda chega a ser ‘ignorante’. Um chute na cara dos presentes. Se alguém conseguiu ficar indiferente ao show do Accept pode mandar enterrar.
MANOWAR
O MANOWAR é a típica banda ame ou odeie. Você precisa amar muito as músicas para aguentar certos exageros como por exemplo a mania de querer tocar mais alto que o suportável e ver o baixo engolindo o som da guitarra. Ou o irritante solo de baixo de Joey Demaio, ou ainda a sua ceninha de arrancar as cordas do baixo e entregar para as garotas da primeira fila convidando-as, digamos, um encontro mais íntimo no backstage.
Tudo isso às vezes acaba por ofuscar o mais importante, que é a música. E dessa vez o Manowar não economizou nos clássicos, fazendo com que toda essas cafonices pudessem ser esquecidas. Destaques para “Manowar”, “Metal daze”, “Hail & Kill”, “Kings of Metal”, “Battle Hyms” e “Black Wind, Fire & Steel”.
Eric Adams ainda segura bem a onda e mostrou estar com o fôlego em dia. Além disso, duas outras coisas chamaram a atenção. A primeira foi a SURPREENDENTE participação de ROBERTINHO DO RECIFE em “Metal Daze”.
A segunda, o discurso em Português de Joey Demaio exaltando os fãs e mandando um “VAI SE F***R” para quem não gosta de heavy metal.
Pesando os prós e os contras, foi uma apresentação divertida. E com certeza os fãs da banda – que não eram poucos – desta vez ficaram plenamente satisfeitos.
JUDAS PRIEST
Houve quem reclamasse de o JUDAS PRIEST ter repetido o mesmo setlist nas duas noites em que tocou. Mas quem é fã mesmo, ou quem perdeu as apresentações de sábado, certamente gostou – e muito – do que viu e ouviu.
Primeiro fato que chama a atenção é o fato de ROB HALFORD estar muito melhor do que eu esperava. A voz obviamente, tem seu desgaste natural de tantos anos de carreira, mas mesmo assim continua em grande nível. Além disso, é sabido que o cantor de 63 anos passou recentemente por sérios problemas na coluna. Então vê-lo entrar com sua Harlley Davidson no palco e a andar e até deitar no chão em sua performance não deixa de ser legal por mostrar um artista sempre em busca de superação.
Sobre a atuação da banda e o repertório podemos dizer que foram impecáveis, fazendo ainda ótimo uso dos recursos que o palco proporcionava. Se o ACCEPT, por exemplo, se define pela ‘fúria’, o JUDAS PRIEST se define pela ‘classe’. Destaque para TUDO, mas especialmente, para “Victim of Changes”, numa interpretação muito legal, e para as músicas novas “Valhalla”, “Redeemer of Souls” e “March of the Damned”, mostrando que o JUDAS PRIEST é relevante não só pelo passado.