Diário de uma Torcedora – A ida

Acervo SPFC

 

Olá amores, tudo bem com vocês?

Quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016, o relógio tocou às 6h00 e o primeiro pensamento não foi que eu queria 10 minutos a mais de sono, nem as infinitas reuniões do dia, muito menos em quem partiu o meu coração. Mas, sim, foi, “hoje tem São Paulo e é Libertadores”.

Às 7h10, enquanto dirigia rumo ao trabalho ao som do Green Day, devaneei. Afinal, alguém me explica o motivo de cada hora durar intermináveis 60 minutos?

Olhei para a minha roupa social e botei em xeque o protocolo, pois poderia estar vestida com o manto. Logo pensei nas tais reuniões, teria que lutar para ter foco em dilemas de funcionários, em tomar decisões frente aos projetos em andamento, quando tudo o que eu queria era mesmo conjecturar sobre a partida e o futuro do meu time.

Na pausa para um café entre um assunto e outro, a primeira gracinha do dia: “Ae chefe, hoje é o César Vallejo day?” Tipo de situação que resolvo apenas com um olhar. Contudo, uma das deusas que habita o meu interior (e de toda mulher) que tem instintos de serial killer logo se agitou e tratou de imaginar uma cena digna de Ronda Rousey.

Aaaah… finalmente a hora do almoço! E no meu universo predominantemente masculino, certamente o assunto à mesa poderia ser futebol. Que decepção! A galera desandou a fofocar sobre os “alvos” do escritório, porque, afinal toda empresa que se preze tem as figuras que abastecem a rádio peão, assim como temos Reinaldo e Lucão.

A tarde transcorreu bem, avançou para a noite, quando pude degustar lentamente cada um dos deliciosos sete gols que o Barcelona tinha feito em cima do Valencia. Eis que surge a constatação, uma vez que nos apaixonamos por futebol e cravamos a escolha do nosso time do coração, não temos escapatória, de forma automática somos firmados ao cargo de torcedor.

Mas, como? Afinal não jogamos o jogo, não recebemos os louros das vitórias e nem as cobranças das derrotas, não fazemos os gols, não levantamos as taças. Um torcedor é apenas um indivíduo que em massa se transforma em uma torcida. Se ser torcedor é um cargo, a torcida tem uma função.

E essa função em relação ao nosso objeto de adoração não se define, se vive. Foi o que vivemos a partir das 21h38, quando o São Paulo entrou em campo na cidade de Trujillo no Peru.

Que o São Paulo jogou pela vitória, não tenho dúvida. E que mesmo na casa do adversário, tomou partido do jogo desde o início. Parou em duas bolas na trave, sendo em uma delas, mais um erro inadmissível de uma arbitragem mundial que ainda vive na era Charles Miller.

Os primeiros minutos deram mostras que seria um treino de luxo, o time peruano dava espaço suficiente para o São Paulo tocar a bola e inverter as jogadas para avançar pelos lados do campo. Até aí, a marcação estava distante e o jogo frio, embora o São Paulo estivesse voluntarioso e animado para abrir a contagem logo.

Como quem não faz, toma, na primeira finalização, o meia Hohberg acertou um chutaço que nunca mais na vida se repetirá e claro, isso foi um baque para o Tricolor que vinha bem.

Eis que a partida ganhou cores dramáticas, porque mesmo ficando menos com a bola, o César Vallejo mostrava nitidamente que buscaria a vitória e ameaçou o Tricolor em outros momentos, principalmente por perceber que Dênis jogava adiantado. Sim, eu não confio nele.

Outro ponto foi que o time peruano ocupou melhor os espaços de sua defesa obrigando o São Paulo a reduzir o seu repertório às bolas alçadas na área, bem como se precipitar em finalizações que não levavam a nada.

Ganso se apresentou muito bem e espero que com a sequência do trabalho com a formação ideal da equipe, ele ganhe consistência e compartilhe o protagonismo com Lugano, Kardec e Calleri.

A minha percepção é que Bauza já está conseguindo gradativamente imprimir personalidade ao time. Aos poucos, ficam no passado recente toda aquela apatia e mimimis injustificados.

Evidente que há o que acertar, algumas peças continuam não encaixando como Centurión e Bruno. A defesa merece toda atenção do mundo, todas as jogadas de ataque do César Vallejo nasceram a partir de passes nas costas de Mena. O time não ameaçou tanto, mas e quando enfrentar alguém com pegada?

Ainda assim, já vejo um São Paulo mais compactado em sua defesa e melhor definido taticamente para fazer a transição em bloco. O gol do adversário nos mostrou também que, embora houvesse certa ansiedade em buscar o empate, o time soube reagir, a precisão nos arremates é que merece atenção. A verdade é que em outros tempos, possivelmente não empataríamos a partida ou até mesmo perderíamos.

Bauza mexeu bem no time e com isso, finalmente Calleri apresentou as suas credenciais não só pela técnica, mas também por sua raça portenha que somará consideravelmente às necessidades dessa equipe.

O caminho é longo, o tempo é curto e a necessidade de resultado é imediato. Situações de risco geram oportunidades. Tudo depende de como você se apresenta à situação.  E o São Paulo se apresentou bem, mereceu vencer. O empate foi injusto.

Vamos nos irritar com o time? Sim. Vamos cornetar? Sim. A questão é: encontramos um caminho. E alguém ainda acha que não estamos no caminho certo? Creio que não.

Na próxima semana, no Pacaembu, teremos novas emoções e eu estarei de volta aqui. Porque, essa é uma outra boa história que pretendo escrever em meu diário.

Um beijão e até a próxima,

Pri Ruiz

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