Breve Fim

Floresta

Em meio ao clima da Copa do Mundo de 1934, uma crise administrativa assolava o futebol brasileiro. A disputa amadorismo x profissionalismo ainda seguia a pleno vapor, causando problemas também para a Seleção Brasileira. A única entidade nacional reconhecida pela FIFA era a CBD, no caso, amadora. Desde 1933, porém, os principais clubes nacionais já eram profissionais e filiados a FBF. No eixo RJ-SP, todos, exceto o Botafogo.

Houve grande pressão para que os clubes profissionais liberassem seus atletas convocados para a amadora CBD, o que causou revolta entre os dirigentes. Um clube chegou a esconder (e trancafiar) seus jogadores em fazenda no interior. Do São Paulo, foram convocados Luizinho, Armandinho, Waldemar de Brito e Sylvio Hoffmann. O clube não liberou os atletas, mas a medida não foi o suficiente e a CBD os pirateou mesmo assim. Obviamente, os dirigentes são-paulinos ficaram enfurecidos.

O conflito de bastidores não se resumiu à esfera nacional. O racha chegou à APEA, a federação estadual. Devido à perda de poder da FBF, à qual a APEA era subordinada, o Palestra Itália (justamente o clube que escondera jogadores no interior), lidera a fundação da LPF e se sujeita à antes inimiga CBD. Em breve seria seguido por outros clubes paulistanos.

Isolado politicamente, o Tricolor permaneceu na APEA o quanto pôde, sendo o último clube grande a aderir a LPF e a engolir a CBD. Este fato dividiu os dirigentes, conselheiros e sócios do São Paulo FC. Muitos nunca admitiriam o cabresto daquela entidade. Por já estarem fartos de, dia após dia, conviverem com o caos federativo, uma comissão conjunta aprovou, em 26 de janeiro de 1935, por dez votos a dois, um estudo de fusão com o CR Tietê. A idéia era deixar o futebol e suas intrigas políticas de lado, concentrando-se somente nos esportes amadores (afinal, a fusão CR Tietê-São Paulo FC produziria o maior clube social do Brasil).

Para justificar essa ação desproporcional aos que não queriam deixar a herança do CA Paulistano morrer, alardeou-se uma suposta dívida contraída após o aluguel de uma luxuosa sede de gala, o famoso Palácio do Trocadero, em 1934. A tal dívida, em seu total, era de 214 contos de réis. Como bem retrata o livro História do Futebol no Brasil, do consagrado jornalista Thomaz Mazzoni, tudo não passou de pretexto. Esse montante, como argumenta o autor, seria facilmente coberto pelo valor do passe de 2 ou 3 craques do elenco, que contava com o maior jogador brasileiro de sua época: Friedenreich.

Em verdade, a própria receita gerada pelo departamento de futebol seria suficiente. Como exemplo, só em 1933 o clube arrecadou 381 contos de réis. Dinheiro não era desculpa. A decisão foi política. Tamanha foi a repercussão da filiação à CBD e da proposta de fusão que o presidente Edgard de Souza Aranha renunciou, em 7 de março de 1935.

Novamente a fusão foi posta em pauta em reunião de Diretoria e Conselho, no dia 12 de março, e mais uma vez o resultado foi favorável. Com isso, até mesmo os jogadores, liderados por Araken Patusca – o capitão do time -, se rebelaram publicamente contra, pois queriam continuar a jogar sob as cores do SPFC. Punidos pela diretoria, fundaram então o Independente Esporte Clube, em 25 de março de 1935, que usava as mesmas cores do São Paulo.

O destino do clube foi definido em 14 de maio, em Assembléia Geral. Ou, melhor, nem tão geral assim. Pelo artigo 2º dos estatutos, definiu-se que somente os 205 sócios considerados fundadores poderiam participar de tal Assembléia, e não a totalidade dos sócios (mais de 2 mil). Destes aptos, somente 151 estavam em condições de voto ou vivos.

Finalizado o plebiscito, 113 sócio-fundadores optaram pela fusão, 33 se abstiveram, e somente 5 foram contra essa decisão. Assim foi decidido oficialmente o fim do São Paulo FC de outrora e sua decorrente fusão com o CR Tietê, formando assim o Clube de Regatas Tietê-São Paulo, também tricolor.

Como em 1929, os descontentes se mobilizaram e mais uma vez lutaram para manter viva a glória antes conquistada. A luta foi sofrida e o caminho, longo, mas nada impediria que aquele que viria a ser conhecido como o Clube da Fé voltasse a campo. Não foi em três dias, ou três meses depois, mas o São Paulo FC renasceu.

Fonte:
http://www.saopaulofc.net/spfcpedia/a-historia-do-spfc/floresta/