Enquanto a construção do Estádio do Morumbi ainda engatinhava, o custo não atrapalhou tanto o futebol do São Paulo FC. Até 1957, quando começaram as obras pesadas de elevação dos gigantes de arquibancada, o São Paulo ainda pode investir em grandes atletas e formar belos plantéis.
Tendo reformulado o time no início dos anos 50, após Leônidas e Remo deixarem os gramados, o Tricolor contratou figuras de peso, como Maurinho, Dino Sani e Pé de Valsa. Da Argentina vieram ainda o goleador Albella e Negri. Com Poy no gol, e com a linha defensiva formada por De Sordi e Mauro Ramos, o São Paulo passeou nas rodadas iniciais do Paulistão. De 19 jogos, venceu 17 e empatou dois.
É quando o imponderável acontece. Não há maneira de explicar a derrota por 4 a 1 para o pequenino Linense. Em Lins, a torcida ensandecida desfilou pela cidade montada em um grande elefante, símbolo do clube, comemorando.
A estranha derrota, contudo, em nada abalou a moral da equipe, que seguiu vitoriosa até a antepenúltima rodada, quando uma combinação de resultados (sua vitória frente o Santos, por 3 a 1, e o empate de Lusa e Palmeiras) garantiu o título antecipadamente. Era 24 de janeiro de 1954. A Cidade de São Paulo amanheceu, no dia seguinte, em seu aniversário de 400 anos, comemorando mais uma conquista do Tricolor. Belíssimo presente!
Após as terceiras colocações obtidas nos Paulistas de 1954 e 1955, o São Paulo, em 1956, chegou à decisão do título contra o Santos, mas não foi bem sucedido. 4 a 2 para o time praiano e o vice-campeonato. Sobrou para o goleiro argentino Bonelli, que saiu acusado de “ter se vendido”.
Em 1957, o SPFC mais uma vez ousou e trouxe um treinador europeu para comandar sua equipe, o húngaro Bella Guttman – famoso técnico do time base da Hungria de 1954, o Honved. Foi Bella quem introduziu no Brasil o esquema 4-2-4, que levou a Seleção a conquistar o Mundial de 1958.
Revolucionário, Guttman inovou também na maneira de como se treinar uma equipe, com “aquecimento” antes do jogo, treinamento de pontaria nos chutes e a utilização de várias bolas durante os treinos. Mesmo assim, o São Paulo FC começou devagar sua temporada. Faltava algo mais.
Assim, da mesma maneira em que apostara, em 1942, em um craque veterano, o São Paulo se encontrou dentro das quatro linhas quando Zizinho aqui chegou, trazendo consigo um toque de maestria para o time que, com ele, emplacaria dez jogos invictos, golearia o Santos de Pelé por 6 a 2 e chegaria na última rodada em condições de ser campeão. Bastava vencer o Corinthians para comemorar o título.
Não seria fácil, entretanto. O time alvinegro havia, há pouco, perdido uma invencibilidade de 35 partidas e o clima entre as duas equipes não era nada bom. Em partida anterior, o jogador Alfredo, ex-são paulino então no Corinthians, fraturou a perna em dividida com Maurinho. No dia seguinte, Gino Orlando, após visitar o colega no hospital, levou uma tijolada sorrateira de Luisinho, meio-campista corintiano.
Dia da decisão. Dentro de campo tudo ia bem, o São Paulo vencia por 2 a 1, gols de Amaury e Canhoteiro. De repente, em um chutão pro ataque aos 34′ do segundo tempo, Zizinho domina, passa para Gino, que de primeira toca para Maurinho, que ganha a corrida do zagueiro e arremata para o fundo das redes do goleiro Gilmar. 3 x 1! Os corinthianos reagiram mal ao gol e à festa são-paulina. Pancadaria geral dentro de campo e também fora dele.
Com a conquista Tricolor e a lamentação alvinegra, encerrava-se assim a peleja que viria a ser lembrada como “Noite das Garrafadas”.
Fonte:
http://www.saopaulofc.net/spfcpedia/a-historia-do-spfc/morumbi/