A CONSTRUÇÃO DO MORUMBI

Acervo SPFC

Atualizado em 10.04.2016

Olá Amigos, Boa noite!

Atualmente um dos assuntos mais comentados na mídia esportiva é o Estádio Cícero Pompeu de Toledo, o Morumbi. A história do estádio do SPFC se confunde com a história dos grandes clubes paulistas já que grande parte de suas conquistas aconteceram neste estádio, devido à copa do mundo de 2014 muito se fala com relação à construção do estádio dizem que foi utilizado dinheiro publico, etc., vou tentar fazer um resumo da história da construção da “Mansão Tricolor”,

No início dos anos 40, o São Paulo Futebol Clube havia comprado, por 740 mil cruzeiros, a praça de esportes do Canindé, tornando-a sua sede. Todavia, nunca fora realmente seu estádio, pois nela estádio não existia. Da mesma forma, o antigo campo da Rua da Moóca, o Estádio Antônio Alonso, usado anteriormente, também não era seu, e sim da Companhia Antárctica Paulista

O Terreno:

O estádio do Tricolor como diziam os adversários foi construído no meio do nada.

Em 1950 em busca de um terreno para a construção do estádio a diretoria do São Paulo ouvia um “não” do então prefeito da cidade de São Paulo, Armando de Arruda Pereira, sobre a possibilidade da construção do novo estádio em um terreno em que hoje se encontra oParque do Ibirapuera. Em verdade, o fervoroso interlocutor que influenciou a decisão de Arruda Pereira foi o futuro prefeito Jânio Quadros, então vereador.

A busca por um terreno compatível com o grandioso plano prosseguiu até1951, quando Luís Aranha, Cícero Pompeu de Toledo e Breno Caramurupassaram a apostar todas as suas fichas no chão de barro vermelho de um bairro que estava por nascer…

Inspirado na Lei n° 58, que regulamentava loteamentos, Luís Aranha conseguiu uma entrevista com o presidente da Imobiliária e Construtora Aricanduva, pleiteando que uma área a ser destinada para parques e jardins fosse destinada ao São. Paulo FC

Assessorados pelo secretário jurídico da Prefeitura, Nelson Marcondes do Amaral, os são-paulinos, em 04 de agosto de 1952, foram ter-se em reunião com o prefeito Arruda Pereira, onde se acertaria a doação de um terreno de quase 100 mil metros quadrados da Imobiliária Aricanduva no Morumbi para o São Paulo Futebol Clube. A prefeitura foi somente interveniente, ou seja, mediadora e avalizadora do negócio. E isso, graças a uma cessão de parte do terreno do Canindé à prefeitura para a construção de uma das estradas Marginais do Tietê – inaugurada pouco tempo depois, 1957.

Duas semanas depois de acertada a transferência de posse, em 15 de agosto de 1952, o Monsenhor Francisco Bastos abençoou o solo sagrado do Morumbi, lançando sua pedra fundamental. Aos poucos, o clube ia adquirindo outras partes do terreno.

Planejamento:

O projeto arquitetônico escolhido para o, então, Estádio Nove de Julho – Sim, o Morumbi teria esse nome em homenagem à Revolução Constitucionalista de 1932 – era de João Batista Vilanova Artigas, um dos mestres da área (principal nome da escola denominada “Movimento Paulista” de arquitetura e fundador da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, a FAU), em detrimento da proposta soviética da construtoraAntonov & Solnnerkevic – de cunho arrojado e que previa, inclusive, uma cobertura transparente e removível.

O crucial para a escolha do projeto de Artigas foi a capacidade estipulada: 120 mil pessoas. Posteriormente, Artigas, então muito ocupado com outros projetos e afazeres, doou os direitos de seu projeto ao São Paulo, o que permitiu ao clube proceder certas alterações sobre a concepção original (dentre outras mudanças: unir o terceiro e quarto piso de arquibancadas em um só, aumentando em cerca de 30% a capacidade total do estádio, agora então de 150 mil pessoas).

Uma reviravolta dramática ocorreu quando, em 1957, Cícero Pompeu de Toledo se afastou do cargo de presidente da Comissão Pró-Estádio e do próprio São Paulo por motivos de saúde, e falecendo em seguida. A comoção foi tamanha, que nem poderia ser diferente, o Estádio do Morumbi só poderia receber um nome oficial: Estádio Cícero Pompeu de Toledo.

A Construção:

Como pôde esse titã ser erguido? É o que se perguntam não somente os torcedores rivais, mas qualquer leigo na história e na tradição são-paulina. Natural que fiquem pasmos e atônitos… Mas vamos aqui, primeiramente, enumerar alguns fatos e dados que ajudam a explicar a complexidade e grandeza desse monumento:

1. Contenção de despesas e “fila de títulos” por 13 anos. 
2. Parcerias e permutas comerciais com grandes empresas.
3. Empreendedorismo e campanhas publicitárias.
4. Empréstimos financeiros.
5. Venda de Cadeiras Cativas.
6. Venda de Títulos Patrimôniais.
7. Carnê Paulistão.
8. Doações.
9. Aluguéis de jogos de outros clubes.
10. Promoção de torneio com clubes do exterior.

1). Pois é, o principal, e como Natel costuma dizer, foi que o clube, sob sua mão, soube dissociar o futebol do estádio. O que se arrecadava para a construção do estádio, ficava no estádio. E como a construção exigia muito, pouco sobrava a se arrecadar para o futebol. Por13 anos o São Paulo sofreu com equipes medianas. Ainda assim, com todo o motivo do mundo, sua fila foi a menor da história, se comparada aos clubes rivais.

2). Visando a iluminação do estádio, por exemplo, Henri Aidar e Antônio Leme Nunes Galvão recorreram à Philips e ofereceram um acordo: A empresa holandesa cederia os refletores por um aluguel de 10 anos e, em troca, colocariam painéis de publicidade no estádio.
Outro exemplo foi um acerto com a Companhia Antártica Paulista, onde o clube recebeu CR$ 5 milhões pela concessão do direito de exclusividade de comercialização de produtos no estádio, a partir de sua inauguração, pelo prazo de 10 anos e com opção de mais cinco.

3). O empreendorismo e comprometimento com “a causa” dos dirigentes do São Paulo era tão forte e tão inovador que as transações comerciais com esses investidores privados eram até inusitadas. Como quandoLaudo Natel se transformou em garoto-propaganda, indo à televisão fazer publicidade de uma indústria de acessórios de construção civil que prometera ceder 400 mil parafusos para fixação de assentos, gratuitamente.
Laudo Natel também criou a Campanha do Cimento, a qual Nunes Galvão expandiu até mesmo para a cidade de Ribeirão Preto, sua cidade natal e sede de sua construtura, a Civilsan – esta que fez toda a base do Estádio. Lançou ainda, Natel, diversas campanhas promocionais, como umLP chamado Bola no Barbante, que contava com a participação deHebe Camargo (vedete são-paulina), cujos ganhos foram revertidos ao estádio.

4). Obviamente o clube teve que recorrer a instituições financeiras em busca de capital volátil (ou seja, grana viva) para manter essa obra. Tomaram, por exemplo, um empréstimo de CR$ 5 milhões com a Caixa Econômica Estadual. Foi importante também a participação doBradesco, que emitia títulos em prol do São Paulo às empresas negociantes, que lá depois descontavam o valor. Contudo, como Natel diz:

“Foi uma ajuda normal de uma instituição financeira ao seu cliente. Eu era diretor das duas instituições na época, então, evidentemente, eu usava o Bradesco, um grande colaborador do São Paulo. Mas sempre dentro das condições normais, pois o Banco não era de minha propriedade, eu era apenas diretor.”

Vale ressaltar que o dono e fundador do Bradesco também participava ativamente da construção do estádio. Verá com mais detalhes abaixo.

5). Jose Poy, ídolo e goleiro do São Paulo, vendia pessoalmente futuras cadeiras cativas de porta em porta. Mas somente isso não bastava. Inicialmente planejava-se vender 6 mil cadeiras cativas, de modo temporário – um período de 20 anos. Porém, o ceticismo da época aliada a zombaria rival de “se construir um estádio no meio do mato” forçou o São Paulo, para se alavancar as vendas, a tornar a posse dessas cadeiras definitiva.

Então, das 12 mil postas a venda, somente Poy vendera 8 mil.

Hoje, não existem cadeiras cativas sem dono. Aliás, cogita-se a (re) compra dessas por parte do SPFC para a Copa do Mundo de 2014. Mas isso é outro assunto…

6). Também fez parte dos planos de arrecadação de fundos a venda de títulos patrimoniais e sociais. “Campanha que, a exemplo das cadeiras cativas, foi coroada em pleno êxito. Basta dizer que nessa iniciativa, logo no princípio, foram vendidos cerca de 7.500 (aproximadamente). O preço estimulado no início foi de Cr$ 100.000,00 (cem mil cruzeiros) com descontos de 20% para proprietários de cadeira cativa e de 25% para associados”.

7). Conrado Giacomini, em seu Dentre os Grandes, És o Primeiro, define bem o que foi o Carnê Paulistão, criado ao fim dos anos 60:

“Era uma espécie de bingo, criado e idealizado pelo apresentador são-paulino Hélio Setti, que sorteava prêmios a granel pela televisão, ao vivo, pela TV Excelsior, às 21:00h, no intervalo das novelas. A pessoa que estivesse com o pagamento do carnê em dia, concorria a prêmios. Ao remitir a dívida ao carnê, o comprador poderia escolher um prêmio entre os anunciados. Enfim, era mais ou menos o que fazia Sílvio Santos com seu Baú da Felicidade.

O Carnê Paulistão foi um estrondoso sucesso, tornou-se uma autêntica febre, recordes de vendagem eram quebrados. Pouco tempo depois, outros clubes imitaram a iniciativa e também lançaram os seus carnês. Todos esses sorteios, sempre é bom dizer, precisavam de autorização doMinistério da Fazenda. Porém, o excessivo número de carnês de times diferentes confundiu o público. Desse modo, só o nosso Carnê Paulistão deu certo.

8). Doações de são-paulinos ilustres foram comuns à construção do Morumbi. O presidente e fundador do Banco Bradesco, Amador Aguiar, costumeiramente desenbolsava quantias de caráter mais urgente, a fim de cobrir essas despesas. Retrato da fidelidade e confiança no São Paulo Futebol Clube. Quase uma tradição, iniciada desde os tempos de Porfírio da Paz – que todos sabem, vendeu tudo o que tinha, certa vez, para ajudar o SPFC.
Outro contribuinte que merece muito crédito foi o já comentado (e falecido) Antônio Leme Nunes Galvão, futuro presidente do São Paulo, e então dono da Construtora Civilsan, da empresa Bardahl e sócio-proprietário do BCN (Banco de Crédito Nacional).

9). Desde 1960, quando o Morumbi foi inaugurado parcialmente – aliás, essa inauguração parcial foi aprovada justamente para se angariar mais recursos -, o São Paulo passou a receber taxas por aluguel do campo a outros clubes. Sim, desde 1960 o Tricolor possui fregueses fiéis… Questão de visão e projeção do futuro.

10). Em 1957 foi promovida pelo São Paulo Futebol Clube a I Copa São Paulo, mais conhecida como I Torneio Internacional do Morumbi, ou somente Taça Morumbi. O estádio, como sabem, ainda não estava pronto, desta forma a competição foi realizada no Pacaembu e Maracanã, com 4 clubes do exterior: Lazio, Belenenses, Sevilla e Dínamo Zagreb, além de Flamengo, Vasco da Gama, Corinthians e o próprio São Paulo.
As rendas também foram convertidas em ferro e cimento. Talvez por isso, quando os estrangeiros foram eliminados da competição (todos os brasileiros se classificaram para o quadrangular final), os rivais nacionais abandonaram o campeonato. Não interessava a eles, ao visto, jogar entre si o torneio amistoso somente para proporcionar fundos ao São Paulo.

E isso são somente alguns fatos significativos pinçados de todo o gerenciamento de Laudo Natel e companheiros durante a construção do Estádio Cícero Pompeu de Toledo. O mote de seu patrono sintetiza ainda mais o que foi tudo isso:

“Fazer o difícil na hora e o impossível um pouco depois”.

 

Ainda que tarde, ainda que seja impossível: que se faça. E foi feito.

E com números impressionantes: para o projeto foram necessárias 370 pranchas de papel vegetal; cinco meses foram consumidos nas terraplanagens e escavações, com o movimento de 340 mil metros cúbicos de terra; um córrego foi canalizado; o volume de concreto utilizado é equivalente a construção de 83 edifícios de dez andares; os 280 mil sacos de cimento usados, se colocados lado a lado, cobririam a distância de São Paulo ao Rio de Janeiro; 50 mil toneladas de ferro, que daria para circundar a Terra duas vezes e meia.

E, quando já se era possível contemplar o porte do Estádio, com sua conclusão em vias de se realizar, a prefeitura de São Paulo propôs o imponderável, o inaceitável, ao clube: A troca do Estádio do Morumbi pelo Estádio do Pacaembu.

É, a mesma prefeitura que antes impôs empecilhos ao Estádio, agora o desejava…

Não! Natel, como só ele poderia responder, pôs fim a indecorosa proposta:

“O sonho do são-paulino não cabe no estádio do Pacaembu”.

Afinal, o sonho do são-paulino é agora, graças a essa história e a esses homens, tangível, concreto. Da mesma forma, de valor incalculável. Afinal, os esforços não foram medidos…

Fonte:

SPFCPedia

http://spfcpedia.blogspot.com/2009/01/construcao-do-morumbi.html

Reprodução de coluna do Blog do Guine no antigo: LanceActivo

Postagem original: Janeiro de 2013.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.